Salinas do Samouco: um santuário de natureza às portas de Lisboa
The Travellight World – MARÇO 21, 2024
Muitos não sabem, mas às portas de Lisboa, em pleno estuário do Tejo, existe uma das zonas de maior riqueza ambiental da Europa — as Salinas do Samouco.
É um espaço de contacto privilegiado com a Natureza e permite ao visitante conhecer e perceber a importância que teve para aquela região, a industria da extração do sal. É um lugar único que une a biodiversidade a um relevante património sociocultural.
A Reserva Natural Salinas de Samouco é um estuário que fica localizado entre Alcochete e o Montijo, na margem esquerda do Rio Tejo. São 360 hectares de ambiente natural, constituídos em grande parte por salinas e um intrincado sistema de canais e tanques.
Apesar de ter sido informada que ali viviam cerca de 250 espécies de aves, incluindo flamingos, para ser sincera, não ia à espera de ver muito e, no final, acabei verdadeiramente surpreendida e de coração cheio com tanto que vi.
As Salinas do Samouco albergam hoje, para além da produção de sal, um projeto ecológico e ambiental de proteção e conservação, sendo um local de alimentação, refúgio e nidificação de milhares de aves e outras espécies.
O Trilho do flamingo (4 km com dificuldade reduzida) e do Pernilongo (7 km com dificuldade média) são os dois passeios que podem ser realizados nesta área natural e, através dos quais, podemos conhecer a importância do salgado e observar in loco as aves estuarinas.
Várias aves migratórias repousam aqui depois dos seus longos voos e algumas espécies fazem desta área, que se altera com as marés, o seu lar todo o ano.
É possível fazer uma visita guiada, mas optamos por ir ao nosso próprio ritmo e seguir o Trilho do Flamingo.
Logo no inicio fomos brindados por uma série de (barulhentos e adoráveis) pernilongos.
A paisagem era de tirar o fôlego!
Ao longe, primeiro e depois de perto, vimos bandos de flamingos. Eram muitos e a certa altura levantaram voo. Foi um espetáculo de beleza única… Pura poesia. As fotografias não o conseguem transmitir. É preciso estar lá.
créditos: Travellight World
Pelo caminho encontramos também dezenas de simpáticos burros mirandeses que ali estão ao abrigo de um projeto de conservação.
Vi também vários coelhos, rápidos demais para pousar para a fotografia.
Quando o sal era o “ouro branco”
Mais ou menos a meio do percurso, chegamos à Marinha do Canto, a única salina neste local que se mantém em funcionamento.
O complexo centenário do Samouco, remonta ao século XIII e era originalmente constituído por 56 salinas. Foi durante muitos anos, o principal produtor de sal do país, mas representa muito mais do que isso, representa parte da história e cultura de um povo — os alcochetanos.
O sal era nesta região o sustento de muitas famílias. Chamavam-lhe o “ouro branco” e Alcochete foi, durante muito tempo, o principal núcleo de produção desta riqueza que, depois de extraído, era transportado para Lisboa, onde era vendido e exportado.
créditos: Travellight World
A extração do sal era uma tarefa árdua. Nessa época as pessoas trabalhavam “de empreitada, das 03.00 às 08.30 para tirar sete molhos de sal, que eram cinco toneladas e meia, e corriam 140 metros com a canastra de 48 a 60 quilos à cabeça para despejar o sal na serra”.
O trabalho de rapação (rapar o sal da salina e juntá-lo com o rodo) também era pesado. A água salgada muito saturada fazia a pele envelhecer rapidamente… As marcas físicas eram muitas e a compensação na carteira, muito fraca.
Atualmente, a produção de sal nas Salinas do Samouco é feita sobre os moldes artesanais, com todo o rigor e com uma dedicação extrema, dando origem a um sal da mais alta qualidade. O sal e flor de sal extraídos artesanalmente dos cristalizadores preservam as propriedades da água marinha e são excelentes não só para a gastronomia, mas também para a utilização em tratamentos medicinais, cosmético e spas.
O período de extração do sal começa normalmente em maio, quando terminam as chuvas da primavera, e vai até o final de setembro, com as primeiras chuvas do outono.
Dica: Se visitarem as Salinas não se esqueçam de levar protetor solar e repelente de insetos. São duas coisas absolutamente essenciais.
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